Fevereiro chegou e com ele a expectativa de uma das melhores safras, desde 2013. O período de captura do crustáceo no estuário da Lagoa dos Patos é de 1° de fevereiro até 31 de maio. Este ano, o camarão entrou cedo na Laguna e ganhou bom tamanho. Com a grande quantidade, o preço final diminuiu e está mais barato do que o vendido no ano passado.
A quantidade capturada pelos pescadores e fez automaticamente os preços na Colônia de Pescadores Z-3 e Pontal da Barra baixar. A reportagem encontrou camarão sendo vendido entre R$ 19 e R$55 o preço do quilo. Os valores devem variar com o decorrer da safra.
Segundo Franscisco Ribeiro da Silva de 70 anos, que trabalhou a vida toda como pescador. A maior parte da população critica a atividade, sem conhecer os custos e riscos envolvidos. “As pessoas dizem que peixe não é boi, que não precisa de pasto, vacina e alimentação”, desabafa o trabalhador comparando o preço da carne de rês ao camarão. “Vem viver uma vida de pescador e sentir na pele os riscos do mar para levar comida para mesa”, desafia.
Hoje, Chico trabalha apenas com a manutenção de motores e redes, e por isso, situa dos custos para a pesca profissional. Ele diz que o equipamento de pesca custa caro. Uma rede de pesca com 15 braças (22 metros) precisa de corda, cortiças e chumbo, o custo médio é de R$ 300 reais. Cada barco costuma levar cerca de 1.000 (mil) metros de redes, ou seja, são R$ 15.000,00 em material para a captura.
Isso não quer dizer que as dificuldades enfrentadas por quem vive mais em águas profundas do que em terra firme não existam. Ou que não sejam muitas. Pelo contrário. E elas começam logo na própria Lagoa: por estas bandas, a mercadoria tem andado cada vez mais escassa. O que um dia já foi abundante, hoje preocupa quem necessita da exploração do peixe e do camarão para sobreviver. A maioria dos pescadores não tem dividas em bancos, mas contraíram adiantamentos com as “firmas”. Empresas que emprestaram dinheiro para ele sobreviver no período de defeso, para levar comida para a mesa. Agora, com a chegada da fartura na safra, os endividados são obrigados a entregar sua produção ao preço que a “firma” colocar.
A “lancha” como são chamados os barcos de madeira com motores à diesel e grandes caixas de gelo, chegam a custar mais de R$ 100 mil. Para a saída às águas, é necessário abastecer a embarcação com combustível e alimentos. Segundo os pescadores, para ida e volta, dependendo do local que as redes serão amarradas, são necessários 50 litros de combustível. Na Z3, há um único posto de abastecimento e nem sempre é possível buscar combustível fora. Com isso, os pescadores ficam a mercê dos preços que oscilam no forte da safra. No dia da reportagem, o diesel era vendido à R$ 4,35 enquanto que em outros postos era encontrado por R$ 3,59. A caixa de gelo da embarcação é carregada para conservação da carga que é sensível ao calor. No barco “O Santos” (da foto) seriam transportadas 40 caixas de gelo, o que corresponde a 600 quilos.
Quando partem para as águas, são de três a quatro homens no barco e, pelos próximos dias, serão apenas eles e a natureza num trabalho intenso. Assim como na pesca, que é feita num revezamento tanto debaixo de sol como sob a luz da lua, as outras atividades são também divididas irmãmente. Cozinhar é uma delas. Arroz, feijão, frango e até churrasco compõem o chamado rancho que será preparado ao longo do período navegando pela lagoa.
De acordo com Renato Castro, 44 anos, os trabalhadores recebem uma parte do que for capturado nas águas. O dono da embarcação recebe quatro ou cinco partes e o motorista uma parte e meia. Um forma antiga de divisão, semelhante a porcentagem, para o pagamento do serviço de cada um. Um barco consegue trazer cerca de 400 a 500 quilos de camarão, e vendem a produção inteira para atravessadores, que pagam de R$ 8 a 10 o quilo. “Não compensa ficar com o pescado esperando o consumidor e correndo risco de estragar, o pescador tem que pagar os custos e voltar pra abater mais”, explica pescador.
Os pescadores pedem que o período de captura seja móvel, ou seja, se a água salgar e o crustáceo tiver tamanho para captura, que seja liberada a pesca. Há um temor que ocorram chuvas nos norte do Estado ou chegue o começo de março e o camarão vá embora. “A água salgada inundou a Lagoa e camarão de 9 cm estavam sendo capturados. É preciso adiatar o período de captura para reduzir as perdas”, pondera Renato que aguarda por processo que tramita para liberação da pesca do Bagre, que está protegido por lei, desde 2014, com risco de extinção.
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Fonte: Jornal do Laranjal