Já se passaram onze anos desde que o Sebrae as encontrou tecendo pedaços de redes que não serviam mais para os homens pescadores da Colônia Z3 atirarem na Lagoa e trazer de volta com o camarão ou o peixe. Elas faziam o que podiam e imaginavam. Daquele aprendizado ficaram lições que as mulheres redeiras não esquecerão jamais.
Ao contrário: hoje, ao entrar na Banca 43 do Mercado Público de Pelotas, cujo nome é Artesanato da Costa Doce, a gente encontra mulheres com o olhar firme, a voz segura, a postura de quem sabe o que faz e a força que tem.
Ao lado das companheiras dos grupos Bichos do Mar de Dentro e Ladrilã, as Redeiras da Z3 vendem carteiras feitas com o fio das redes ou em couro, bolsas, biojóias em prata e escamas, xales, chapéus, colares de fios de redes, pulseiras, chaveiros. “Trabalhamos com o fio das redes, a escama da corvina e a pele do linguado”, conta Flávia Silveira, esposa de pescador, que está no grupo desde antes da chegada do Sebrae.
Com ela, na Banca, no dia em que o Jornal do Laranjal foi fazer a reportagem, também estavam Karine Portela e Eliane Aires Ferreira, todas moradoras da Z3. Capazes de gerir as próprias vidas, elas posam sorridentes para as fotos. A banca sempre tem visitantes e os produtos são muito procurados. Sempre junto ao grupo da Z3, Tânia Furtado que preside a Associação Ladrilã e faz parte do grupo Bichos do Mar de Dentro.
A rede de pescar camarão é utilizada pelo pescador em torno de cinco safras, período em que ela é exposta a água e sol por longo período, sofrendo desgaste e danos. Quando atinge um estado que não compensa mais ser consertada, o pescador descarta-a, deixando nos fundos dos galpões ou mesmo na rua ou beira de praia.
As artesãs recolhem, retiram a sujeira grossa e depois lavam várias vezes usando o tanque para bater e a máquina de lavar e extrair o resto da sujeira, assim, usando somente sabão em pó e amaciante, elas deixam as redes limpas e prontas para serem usadas no artesanato. Esta etapa está sendo ensinada para mulheres de pescador, para que possam agregar renda familiar.
O próximo processo é recortar a rede manualmente e transformá-la em rolos de fios que serão usados para confeccionar produtos em diversas técnicas como bolsas, carteiras, chapéus e acessórios femininos e em diversas cores.
As vendas não se restringem à Banca. As Redeiras e as colegas do Ladrilã e do Bichos do Mar de Dentro recebem encomendas de outras cidades do país. Muitos produtos viajam durante o ano para lojas e butiques em São Paulo, Rio de Janeiro, Praia de Porto de Galinhas em Pernambuco e Minas Gerais.
Para os contatos comerciais e a consultoria do grupo, as Redeiras contam com o apoio de Rosani Schiller, que trabalhou com elas durante o período de atuação do Sebrae. Quando acabou a parceria, Rosani permaneceu ao lado das amigas.
The post REDEIRAS: ELAS LANÇAM SUAS REDES CADA VEZ MAIS LONGE appeared first on Jornal do Laranjal.
Fonte: Jornal do Laranjal